No Brasil, o tratamento cirúrgico mais realizado em casos de artrose de tornozelo é uma técnica chamada artrodese, que consiste no travamento cirúrgico da articulação (fusão óssea). Apesar de eficiente no alívio da dor, a artrodese gera a perda de mobilidade do tornozelo, o que pode causar uma limitação para determinadas atividades cotidianas. Além disso, estudos apontam que este procedimento pode levar a uma sobrecarga das articulações vizinhas, o que é prejudicial a longo prazo.
A artroplastia total do tornozelo é uma metodologia que visa justamente suprir essa necessidade de tratar a artrose, sem que o paciente perca a movimentação da articulação. Esta é uma cirurgia eletiva (que não possui caráter emergencial) e que visa devolver a mobilidade e capacidade funcional do tornozelo, aliviando a dor sentida pelo paciente e permitindo que ele tenha maior qualidade de vida.
Apesar de ainda não ser muito conhecido no Brasil, esse procedimento já é amplamente utilizado nos Estados Unidos e Europa há várias décadas, com resultados bem estabelecidos e demonstrados em centenas de artigos científicos já publicados nas principais revistas ortopédicas do mundo. Atualmente dispomos no Brasil de algumas das mais modernas próteses de tornozelo do mundo, as mesmas utilizadas em países como os Estados Unidos.
A artroplastia total do tornozelo é indicada para pacientes com osteoartrose grave do tornozelo, cuja dor esteja causando significativa perda da qualidade de vida. Esse procedimento é recomendado para pacientes que desejam manter a mobilidade do tornozelo, mas que não têm a intenção de realizar atividades de alto impacto no futuro como, por exemplo, futebol, uma vez que isso pode acarretar o desgaste precoce da prótese.
Além disso, o procedimento geralmente não é recomendado para pacientes muito jovens na faixa dos 20 ou início dos 30, uma vez que estes apresentam maior demanda funcional, também apresentando maior risco de desgastar a prótese mais precocemente. No entanto, a indicação da realização da artroplastia total do tornozelo ou da artrodese deve ser avaliada através da comparação de dezenas de fatores específicos de cada paciente, não havendo uma fórmula ou um procedimento que seja o melhor para todas as pessoas.
Somente um ortopedista com ampla experiência em ambos os procedimentos será capaz de realizar essa avaliação e tomar a melhor decisão conjuntamente com o paciente, respeitando-se a individualidade e as expectativas de cada pessoa. Os principais problemas que levam à necessidade desta intervenção são:
- Sequelas de fraturas;
- Sequelas de lesões ligamentares e instabilidade do tornozelo;
- Sequelas de lesões da cartilagem;
- Ex-atletas com histórico de sobrecarga física excessiva;
- Artrite reumatoide e outras doenças reumáticas;
- Hemofilia;
- Sinovite crônica;
- Necessidade de reversão de artrodese de tornozelo.
Contraindicações
Assim como qualquer tipo de tratamento, a artroplastia total do tornozelo tem contraindicações específicas. As principais contraindicações para realização desse procedimento são: infecções ativas ou osteomielite crônica, problemas graves de circulação, neuropatia periférica diabética, estoque ósseo inadequado e doenças neuromusculares.
Além disso, o procedimento não é indicado para pacientes que apresentem lesões severas de partes moles no local da incisão. Fumantes pesados em geral também são contraindicados ao procedimento
Fontes:
Saito, Guilherme Honda et al. Short-Term Complications, Reoperations, and Radiographic Outcomes of a New Fixed-Bearing Total Ankle Arthroplasty. Foot Ankle International 2018. doi:10.1177/1071100718764107.
Saito, Guilherme Honda et al. Total Ankle Replacement With Advanced Varus and Valgus Deformities. Techiniques in Foot Ankle Surgery. 2018. doi:10.1097/BTF.0000000000000198.
Daniels TR et al. Intermediate to Long-Term Outcomes of Total Ankle Replacement with the Scandinavian Total Ankle Replacement (STAR). J Bone Jt Surg Am. 2015. doi:10.2106/jbjs.n.01077.