Inflamação no tendão que liga a panturrilha ao calcanhar é caracterizada por dor e dificuldade para atividades diárias.
A tendinite de Aquiles, ou tendinopatia de Aquiles (quando ocorre degeneração do tendão), é um dos diagnósticos mais comuns no consultório do médico ortopedista especialista em pé e tornozelo. Caracteriza-se por um conjunto de alterações estruturais e inflamatórias no chamado tendão de Aquiles, ou tendão calcâneo, podendo causar dor na parte de trás do tornozelo, além de inchaço e perda de força.
O tendão de Aquiles conecta os músculos da perna ao pé, recebendo uma alta carga mecânica. Por esse motivo, a tendinite de Aquiles é um problema muito comum em corredores e esportistas em geral. Porém, ela também pode afetar indivíduos nas mais diversas faixas etárias e com diferentes níveis de atividade.
O que é tendinite de Aquiles?
O tendão de Aquiles é o maior e mais forte tendão do corpo humano. Sua estrutura é como um cordão fibroso de tecido conjuntivo, que faz a conexão entre os músculos da panturrilha e o osso do calcanhar, localizando-se na parte de trás do tornozelo. Quando, por alguma razão, ocorre inflamação nesse tendão, chamamos o quadro de tendinite de Aquiles. Quase sempre ocorre associadamente uma degeneração da estrutura desse tendão, sendo a patologia denominada tendinopatia do Aquiles.
O estresse sobre o tendão é o principal motivo que o leva à inflamação, resultando em dor e dificuldade de movimentação. A estrutura do tendão pode ficar alterada, com pequenas fissuras no alinhamento das fibras e desorganização do colágeno. O tendão inflamado também pode sofrer alterações em sua vascularização.
Praticantes de atividade física de impacto, especialmente os esportistas corredores, saltadores e jogadores de futebol, bem como pessoas sedentárias que fazem algum esforço físico esporádico sem preparo adequado, são as mais afetadas pela tendinopatia de Aquiles. Ainda assim, qualquer pessoa pode desenvolver o problema, independentemente da faixa etária e tipo de atividade.
Quais as causas da tendinite de Aquiles?
A principal causa da tendinite de Aquiles é a sobrecarga mecânica em um tendão que não está preparado para receber esse nível de carga. Por esse motivo, esse problema é frequentemente observado em atletas amadores que realizam exercícios de impacto.
Os principais fatores que levam à tendinopatia de Aquiles são:
- Sobrecarga mecânica devido ao excesso de atividades físicas de impacto;
- Falta de alongamento da cadeia posterior do corpo (tendão de Aquiles, panturrilha, posterior da coxa e lombar);
- Falta de fortalecimento adequado do tendão de Aquiles;
- Deformidades dos pés;
- Predisposição genética;
- Uso de calçados inadequados;
- Técnica inadequada durante a atividade esportiva;
- Treino excessivo em pisos irregulares ou muito duros;
- Sobrepeso e obesidade;
- Determinadas medicações;
- Desgaste do tendão pelo envelhecimento natural;
- Colesterol alto.
Tipos de tendinopatias
Dois tipos de tendinopatias de Aquiles podem ser identificados, a depender da parte do tendão inflamada: tendinopatia insercional e tendinopatia não-insercional.
- Tendinopatia insercional: ocorre na parte inferior do tendão, onde ele se conecta com o calcanhar. Pode vir associada à deformidade de Haglund, uma proeminência óssea no calcanhar que cresce como um esporão, podendo comprimir a estrutura do tendão de Aquiles, causando ou piorando a inflamação.
- Tendinopatia não-insercional: ocorre no corpo das fibras do tendão, acima da sua inserção. Devido à degeneração do tendão, frequentemente se observa um espessamento do mesmo, como consequência das sucessivas tentativas de cicatrização das pequenas lesões causadas pela sobrecarga no tendão. A área mais comumente atingida se situa entre 2 a 6 centímetros do calcanhar, por ser menos vascularizada.
Quais os sintomas da tendinite de Aquiles
O principal sintoma da tendinite de Aquiles é dor na parte de trás do tornozelo, na área onde está localizado o tendão. No começo da inflamação, a dor pode se apresentar sem muita intensidade ao toque, se intensificando no começo das atividades físicas e na realização de movimentos intensos, como correr, saltar ou subir escadas e rampas. No estágio inicial, a dor se alivia com o repouso.
Com o agravamento da inflamação, a dor tende a ficar mais intensa e constante, mesmo ao repouso. Assim, movimentos e atividades rotineiras, como caminhar, se tornam difíceis ou mesmo impossíveis de serem realizadas. Além da dor e inchaço, frequentemente se observa um “engrossamento” do tendão, causado pelo aumento de volume do tendão degenerado.
Como é realizado o diagnóstico?
Através da história e exame físico, a tendinite de Aquiles pode ser corretamente identificada na maioria dos casos. Porém, a ressonância magnética é um importante instrumento na avaliação diagnóstica, tanto para avaliar a extensão e a gravidade da patologia, quanto para se descartar diagnósticos diferenciais. A radiografia também pode ser útil para avaliação da presença de Haglund (esporão ósseo do calcanhar).
Como é feito o tratamento?
O tratamento conservador é a opção de escolha na maioria dos casos de tendinite de Aquiles, principalmente nas tendinopatias não-insercionais. Seu principal objetivo é o alívio dos sintomas e da inflamação do tendão, por meio da realização de exercícios específicos visando o realinhamento das fibras do tendão, melhora da inflamação e consequente alívio da dor. O protocolo de Alfredson consiste em um conjunto de exercícios para fortalecimento do tendão de Aquiles e da panturrilha, e é extremamente eficiente no tratamento dessa patologia, especialmente nos casos de tendinopatia não-insercional. A fisioterapia também pode ser um bom complemento na realização dos exercícios, potencializando o alívio dos sintomas.
Além da realização dos exercícios, a suspensão ou diminuição das atividades físicas de impacto e o uso de medicamentos anti-inflamatórios também podem auxiliar no processo. Em casos de dores refratárias que não melhoram apenas com o protocolo de exercícios, as ondas de choque podem ser eficazes na resolução do problema.
O tratamento cirúrgico é raramente é indicado para os casos de tendinopatia não-insercional, uma vez que esse tipo quase sempre responde bem ao tratamento conservador feito adequadamente. Dessa forma, o tratamento cirúrgico é reservado na maioria dos casos aos pacientes com tendinopatia insercional que apresentam dores recorrentes e limitantes mesmo após o tratamento conservador. Na cirurgia, é realizada a limpeza do tendão, retirando-se todos os tecidos de má qualidade e degenerados. Frequentemente, é realizada uma bursectomia, ou seja, a resseção da bursa inflamada que frequentemente acompanha essa patologia. Por fim, quando há a presença do esporão ósseo de Haglund, realiza-se a retirada dessa proeminência óssea também. Em casos de tendões com qualidade muito comprometida, pode ser necessário o reforço tendíneo com o tendão flexor longo do hálux. Ao final da cirurgia, o tendão de Aquiles é reinserido no calcâneo com uso de âncoras.
A recuperação da cirurgia exige alguns cuidados. O uso de bota imobilizadora deve ser feito por pelo menos seis semanas. Nas duas primeiras semanas, o pé operado não deve apoiar no chão. Após esse período, a carga é aumentada progressivamente. A fisioterapia também tem papel importante no processo de reabilitação. Em geral, com pouco mais de 2 meses o paciente já consegue retomar suas atividades diárias, ainda que evitando atividades de impacto.
Tendinite de Aquiles tem cura?
Na maioria dos casos, os sintomas da tendinite de Aquiles podem ser bem controlados e o paciente consegue levar uma vida normal, inclusive praticando suas atividades esportivas preferidas. No entanto, o tendão comprometido, sempre apresentará algum grau de desgaste. Por esse motivo, é importante se manter os cuidados orientados pelo médico para se evitar recidivas das inflamações e crises dolorosas.
Como prevenir a tendinite de Aquiles?
A prevenção da tendinite de Aquiles é sim possível, e por ser muito comum nos esportes de impacto, ela é rotineiramente realizada em atletas de elite. A prevenção consiste em exercícios específicos de fortalecimento e alongamento da cadeia posterior. Além é claro, de medidas de hábitos de vida, como manutenção do peso e alimentação. Por isso, se você pratica esportes de alto risco para esse tipo de lesão (como corrida ou futebol), ou já apresenta algum grau de desconforto na região de trás do tornozelo, deve considerar a realização de uma consulta com um médico ortopedista especialista em pé e tornozelo. Afinal, é sempre mais fácil prevenir uma lesão do que tratar um tendão já comprometido.
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Fontes:
Honda Saito, Guilherme et al. Open Re-rupture of the Achilles Tendon Following Minimally Invasive Repair: A Case Report. Journal of Foot and Ankle Surgery 2018
Link: https://www.jfas.org/article/S1067-2516(18)30154-6/fulltext
Lantto, I., Heikkinen, J., Flinkkila, T., Ohtonen, P., Siira, P., Laine, V., & Leppilahti, J. (2016). A Prospective Randomized Trial Comparing Surgical and Nonsurgical Treatments of Acute Achilles Tendon Ruptures. The American Journal of Sports Medicine.
Reda, Y., Farouk, A., Abdelmonem, I., & El Shazly, O. A. (2019). Surgical versus non-surgical treatment for acute Achilles’ tendon rupture. A systematic review of literature and meta-analysis. Foot and Ankle Surgery.